2025 foi pivotal a nível global. A ordem mundial que imperava há décadas — estribada na vitória do liberalismo económico; na vitória moral do capitalismo sobre o comunismo; e numa indisputada hegemonia americana — parece correr para o seu fim.
Ao longo do ano, pudemos observar o colapso estrondoso das pretensões de superioridade moral das democracias ocidentais:
- a sua cumplicidade cega no genocídio em Gaza;
- a expropriação de cidadãos a favor de corporações;
- e o seu desprezo pela lei internacional e pelas suas próprias constituições
expuseram a hipocrisia monumental do Ocidente perante o mundo.
A reputação dos Estados Unidos sofreu particularmente. O pretenso líder do mundo livre enfrenta o descontentamento generalizado da sua população com a escalada da desigualdade económica; assim como uma desestruturação dramática do Estado de Direito.
Ao longo de 2025, analistas pelo mundo afora previram a queda iminente do império americano, discordando apenas em matéria de prazos. O facto é que, neste final de ano, encontramo-nos no olho de uma tempestade geopolítica capaz de reformular o equilíbrio de poder a nível global.
Os períodos de transição hegemónica são invariavelmente caóticos. Países como Cabo Verde — sem capacidade negocial, mesmo a nível regional — são obrigados a pensar cuidadosamente em como posicionar-se na próxima ordem mundial.
Ao longo da guerra colonial, o Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde dependia completamente do bloco soviético e da China para a ajuda militar. Mas contava também com generosas contribuições de países da esfera ocidental — como a Suécia e os Países Baixos — para os seus programas sociais.
Depois da independência, Cabo Verde inscreveu-se no grupo dos Não Alinhados — no qual ainda se mantém formalmente. O Governo de partido único dizia-se socialista, mas continuou a explorar fontes de ajuda internacional dos dois lados da Cortina de Ferro.
Com o final da Guerra Fria, o bloco ocidental emergiu como o único financiador do subdesenvolvimento; e Cabo Verde enfrentou uma escolha seminal: como posicionar-se perante uma nova ordem mundial, que seria regida, sem qualquer contraditório, pelo liberalismo ocidental?
Para um Cabo Verde completamente viciado na ajuda externa, a opção foi clara: adoptar uma organização política e económica que fosse agradável ao radicalismo liberal da União Europeia e das instituições de Bretton Woods – os novos mega-financiadores.
Reorganizar o Estado com o objectivo único de continuar a arrecadar ajuda externa pode ser ideologicamente reprovável. Mas o certo é que, através dessa reorganização, o Estado garantiu os meios para continuar a financiar-se; e a manter, através dos influxos de ajuda internacional, os equilíbrios económicos e sociais.
Nessa época, Cabo Verde ainda pensava estas questões com a necessária sobriedade; e o terreno político ainda não estava reduzido à imbecilidade eleitoralista que o caracteriza hoje. Mesmo assim a reorganização económica foi grandemente formal; e continuamos completamente dependentes da ajuda internacional.
Em vésperas de 2026, a pergunta que se coloca é a seguinte: quem, no país, está a ponderar os diversos cenários possíveis da nova ordem mundial— e as nossas opções, enquanto pequeno Estado insular ultra-periférico? Em que fórum da nossa democracia está sendo realizado este debate seminal? Infelizmente, parece que nenhum.