No domingo passado, foram realizadas as eleições internas para a presidência do PAICV, a maior força da Oposição.
O embate foi duramente contestado; não só por reunir um total de quatro candidaturas, como pelas consequências do pedido de impugnação da candidatura de Francisco Carvalho, o favorito para a liderança, por Jorge Lopes, um militante do círculo do candidato Jorge Spencer Lima.
Os resultados reflectiram fielmente as expectativas formuladas ao longo deste processo conturbado:
- Jorge Spencer Lima obteve menos de 1% dos votos, o que reflecte a falência cívica e a irrelevância política da sua pessoa.
- Francisco Pereira, deputado do PAICV pela diáspora, obteve 2,6% dos votos, o que reflecte a sua posição ainda periférica na estrutura do partido.
Aliás, desde o início do processo, era claro que a verdadeira competição seria entre Francisco Carvalho, o edil da Praia, e Nuias Silva, o edil de São Filipe.
Independentemente das qualidades e fraquezas de cada candidatura, como Presidente da Câmara Municipal da Praia, Carvalho detinha uma vantagem estrutural sobre Silva.
A capital alberga um quarto da população do país; uma população de origem nacional diversa, que mantém poderosas conexões com os restantes municípios de Santiago, do país e da diáspora.
São Filipe é um município histórico, politicamente relevante, que também mantém conexões fortes com a diáspora nos Estados Unidos. No entanto, o seu alcance nacional é incomparavelmente menor que o da Praia.
Por essa razão – e pela aceitação da sua imagem pessoal a nível nacional – a vitória de Carvalho era esperada pelo público.
Contudo, a manobra de impugnação que impediu a realização das eleições a 30 de Março – accionada pelo campo de Spencer Lima, mas que acabaria por ser atrelada à candidatura de Silva – reforçou a vantagem de Carvalho.
Silva acabou por suportar uma pesada derrota logo na primeira volta, com pouco mais de metade dos votos ganhos por Carvalho.
Conhecidos os resultados, tanto Carvalho como Silva assumiram posições reflectidas e conciliadoras: Silva concedeu graciosamente a vitória, assim que ela se tornou clara e irreversível; e Carvalho comprometeu-se a ultrapassar a celeuma dos últimos meses e dedicar-se à coesão do partido, como presidente de todos os militantes.
São atitudes louváveis, mas a questão que se impõe é a seguinte: depois dos ataques violentos que cada campo lançou sobre o adversário, será que os seus dirigentes serão capazes de sanear as ofensas suportadas pelas bases, e atingir a funcionalidade necessária para enfrentar as legislativas em menos de um ano? É o que se verá.
Quanto ao futuro do país, ao contrário do que professam os apoiantes de Carvalho, os resultados destas directas dificilmente inaugurarão uma nova era na política cabo-verdiana; mas representam, sem dúvida, a consolidação de um ciclo ascendente para o PAICV, que apresenta as melhores perspectivas de uma vitória nacional desde as eleições de 2011.