Angola está a comemorar 50 anos de independência, obtida em 11 de novembro de 1975. As comemorações começaram em 11 de novembro de 2024 e prolongam-se até 11 de novembro de 2025.
50 anos são 50 anos, não são 50 dias nem são 50 meses e, portanto, merecem comemoração. Sem dúvida nenhuma, é uma data redonda, as pessoas também o fazem quando completam 50 anos e, portanto, do meu ponto de vista, faz todo o sentido um programa de comemorações.
No entanto, essas comemorações devem estar ligadas à situação económica e financeira de quem faz 50 anos e, neste caso, de Angola. E a nossa situação financeira não é propriamente a melhor, para não dizer que é má, muito má.
Angola depende do petróleo. O petróleo representa 30% da economia, 95% das exportações e 60% das receitas do orçamento. Quando há problemas com o petróleo, o país fica em problemas e é o caso agora.
Temos uma descida do preço do petróleo, o petróleo está a cotar-se na casa dos 60 dólares, o orçamento geral do Estado para 2025 foi elaborado com base no preço do petróleo de 70 dólares, o que significa dizer que vamos ter menos receitas do que aquelas que estão previstas no orçamento.
Além disso, temos problemas também de produção. No primeiro trimestre de 2025, a produção de petróleo caiu 7% em relação a 2024. Um coquetel formado por preços baixos e produção baixa é muito mau para Angola, para o orçamento geral do Estado e, portanto, tem que haver alguma parcimónia nos gastos.
Recentemente, o presidente da Federação Angolana de Futebol foi à Argentina para fechar a contratação da seleção argentina para jogar em Angola justamente no dia 11 de novembro de 2025, creio. Segundo se diz, trazer a seleção argentina, e ainda depende se tem Messi ou não tem Messi, custa 6, 7, ou mesmo 8 milhões de dólares.
Isso é uma quantia que Angola não tem possibilidades de pagar, ou por outra tem o dinheiro, mas tem outras coisas onde pode gastar. Simultaneamente, Angola está a organizar no âmbito das comemorações uma cimeira de negócios Estados Unidos-África, em que se esperam mais de duaa mil pessoas.
O que eu acho é que nós devemos fazer mais cimeiras, que é dinheiro bem gasto, que pode ter um retorno no futuro e menos futebol. Gastar 6, 7, ou mesmo 8 milhões de dólares para trazer uma seleção de futebol para um país que está numa situação financeira muito má não me parece, de facto, a decisão mais avisada.