Angola comemorou esta terça-feira, 11 de Novembro, com pompa e circunstância, os 50 anos da sua independência. De um ano inteiro de comemorações, eu destaco, naturalmente, o ato central que decorreu em Luanda, no mausoléu Agostinho Neto, onde estão os restos mortais do primeiro presidente de Angola.
E, desse ato central, gostaria de destacar, naturalmente, o discurso do presidente João Lourenço, proferido perante delegações de mais de 40 países, com destaque para os países de língua portuguesa.
Estiveram presentes os presidentes de Portugal, de Cabo Verde, da Guiné Equatorial, também de São Tomé. Os presidentes de Moçambique, Guiné-Bissau e Timor-Leste fizeram-se representar.
Perante mais de 40 delegações de mais de 40 países, eu acho que o presidente João Lourenço fez um discurso equilibrado.
Dividiu estes 50 anos de independência, fundamentalmente, em dois períodos que todos nós conhecemos, o período da guerra e o período da paz.
Como sabemos, mesmo antes da independência, os três movimentos de libertação de Angola, o MPLA, a UNITA e a FNLA, envolveram-se numa guerra fratricida que terminou apenas em 2002. Portanto, é inegável que estes 50 anos estão partidos ao meio entre guerra e a paz.
Eu acho que o presidente identificou bem os problemas que o país vive, sem deixar de falar das realizações, reconhece que ainda há muitos problemas para resolver. E se o foco depois da guerra foi a reconstrução, o foco atual é o aumento da produção nacional, a diversificação da economia.
É que se Angola tem 50 anos de independência política, também tem 50 anos de dependência económica.
E essa dependência é do petróleo que representa mais de 90% das exportações, representa à volta de 20% do PIB, representa 60% das receitas públicas.
Uma enorme dependência do petróleo, de que é necessário que Angola se liberte.
Bom discurso, conciliador, curto e, portanto, gostei do discurso.
Eu só não gostei do discurso por causa de uma grande ausência e essa ausência foi ausência de qualquer referência à UNITA e à FNLA e aos respectivos líderes.
João Lourenço identificou Agostinho Neto como o pai da nação, identificou José Eduardo Santos como arquiteto da paz e, sobre os líderes da UNITA e da FNLA, silêncio sepulcral.
Também é uma coisa que não nos admira, é isso que, como tenho dito aqui várias vezes, o Presidente da República e o MPLA estão sempre prontos para enaltecer os efeitos do MPLA e dos seus dirigentes e ofuscar completamente qualquer contributo que tenha vindo da UNITA e da FNLA.
Esta ausência de qualquer referência à UNITA e à FNLA e aos seus líderes foi uma nódoa deste discurso do qual, em geral, repito, gostei.