Uma vez mais, e sem grandes surpresas, está instalada uma nova crise no sector da saúde em São Tomé e Príncipe (STP). Desta vez, além dos constrangimentos habituais que dificultam acesso adequado aos serviços de saúde para a maioria da população, que tem o Hospital Ayres de Menezes como a única unidade hospitalar do país capaz de garantir alguns cuidados de saúde, vive-se um aparente desentendimento entre a classe dos médicos e o Governo da República são-tomense.
Infelizmente, para o mal dos pecados dos comuns são-tomenses, a greve dos médicos, que arrancou no dia 24 de outubro, veio agudizar ainda mais o já de si bastante deficitário sistema de saúde em STP, que tem demonstrado ser incapaz de garantir a prestação dos mais elementares cuidados de saúde.
Independente da difícil situação económica e financeira bastante pelo qual o nosso país vem atravessando nos últimos anos, é, salvo melhor opinião, incompreensível a falta de compromisso por parte de todos os atores políticos são-tomenses em resolver, de uma vez por todas, o problema do sistema de saúde em STP. Um facto que deveria constituir uma das prioridades de qualquer governo, especialmente num país com alto potencial turístico como STP.
Sobre o tema do sistema de saúde em STP, é incompreensível a ausência de uma definição concreta de prioridades e metas que permitiriam, por exemplo, dar efetividade ao remanescente do tão propagado empréstimo disponibilizado pelo Fundo do Kuwait, no sentido de se construir de raiz um novo hospital ou, eventualmente, remodelar e modernizar o atual Hospital Ayres de Menezes, que se encontra ruínas e não tem capacidade de resposta face ao aumento de várias patologias que surgiram nos últimos tempos em STP.
Se analisarmos às causas, facilmente chegaremos à conclusão de que, infelizmente, independentemente da falta de recursos financeiros de que o nosso país sempre padeceu, tem faltado compromisso por parte dos sucessivos governos para resolver o problema da saúde em STP.
Tem faltado comprometimento e uma estratégia clara por parte dos sucessivos governos no sentido de dotar o país de mais unidades hospitalares, devidamente equipadas com meios de diagnósticos, profissionais e medicamentos vários para responder em tempo útil e com eficácia às necessidades da nossa população.
Por outro lado, um outro desafio com o qual os sucessivos governos se mostram incapazes de encontrar uma solução prende-se com a falta de rigor, eficácia e eficiência na gestão dos medicamentos e de outros produtos essenciais à prestação de serviços e cuidados de saúde, o que resulta no que se convencionou chamar de “desvio de medicamentos” hospitalares para venda nas artérias da cidade capital e clínicas hospitalares privadas do nosso país.
Respeitando as exigências de quem trabalha, conhece e dá cara todos os dias pela saúde em STP, é urgente que todos juntos, enquanto sociedade, possamos discutir e encontrar um caminho que permita a médio e longo prazo, firmar um pacto que vincule os decisores políticos e administrativos à urgência do nosso país investir mais e melhor num novo hospital, em novas infraestruturas e de recursos capazes de responder às necessidades das nossas populações. Pois, sem um sistema de saúde que garanta capacidade de diagnóstico em tempo hábil, intervenção cirúrgica, tratamento e serviços complementares de apoio aos doentes, estaremos todos, sem exceção, condenados ao insucesso coletivo como nação.