Lixo 

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A população da cidade da Praia cresceu 1000% nos últimos 50 anos; a explosão deve-se em parte a fluxos de migração nacionais; à emigração internacional; mas, fundamentalmente ao êxodo rural.  

Uma tal explosão urbana de base camponesa traz consequências previsíveis. Uma das mais importantes é o aumento desmedido da quantidade de lixo que cada indivíduo produz. 

 Até muito recentemente, o Camponês cabo-verdiano gerava pouquíssimo lixo: produzia a maior parte dos alimentos que consumia; o restante era comprado a granel; os detritos orgânicos eram aproveitados na criação de porcos; e se uma bolsa ou embalagem de plástico lhe chegasse às mãos, ela era guardada como um tesouro, e reutilizada à exaustão.  

Em contrapartida, os seus filhos e netos, urbanos e suburbanos, adquiriram padrões de consumo que produzem quantidades de lixo absolutamente vertiginosas; mas ainda não adquiriram as competências urbanas necessárias para geri-lo responsavelmente – e exigir o mesmo da edilidade.  

A cidadania urbana não é instintiva; ela depende do desenvolvimento de uma mentalidade urbana, construída e transmitida ao longo de séculos.  

Na ausência desse aprendizado como é o caso da população da Praia a única maneira de organizar a cidade é por meio de uma administração municipal pedagógica e uma estratégia de saneamento eficiente. 

Infelizmente, a capital nunca contou com nem uma coisa nem outra. O  resultado é um serviço de saneamento municipal cronicamente precário. E sob a administração de Francisco Carvalho, a situação piorou.  

Animada pela visibilidade do problema, a candidatura do MpD colocou o lixo no centro do debate eleitoral, apontando-o como evidência da incompetência de Carvalho –  e o principal argumento a seu favor. 

No entanto, esta estratégia não parece estar a render os dividendos políticos esperados. Isto por diversos motivos. 

Primeiro, pela baixa exigência que os praienses têm sobre a edilidade nesta matéria. Factores como a distribuição de terrenos, o calcetamento de zonas periféricas, promessas de emprego e formação, e medidas assistencialistas em geral, parecem contar muito mais para a maioria dos munícipes do que a eficácia do saneamento.  

 Segundo, pelos rumores que o lixo amontoado e os contentores derrubados resultam de atos de vandalismo perpetrados por adeptos do MpD. Não obstante a ausência de provas, esta  narrativa é defendida energicamente pelos apoiantes de Carvalho e parece ter sido aceite pela generalidade do público.  

 Em terceiro lugar, a candidatura do MpD debate-se com um problema de imagem que ultrapassa o saneamento: a corrupção. Por essa razão,  a incompetência técnica da presente administração é minimizada pela opinião do público sobre o carácter dos seus adversários.  

Mas voltando ao lixo: Se o saneamento continuar secundarizado por manobras políticas, e pela incompetência da cidadania, o problema nunca será resolvido; e o tema dificilmente ultrapassará o seu atual estatuto de arma de arremesso político.