Em inícios de 2025 – já na recta final do presente mandato – Ulisses Correia e Silva, Primeiro-ministro e presidente do Movimento para a Democracia, anunciou a intenção de construir, na cidade da Praia, um monumento á Liberdade e à Democracia.
Apesar do discurso pseudo-humanista, a demagogia eleitoralista que motivou esta decisão ficou evidente para todos.
O MpD passou o ano de 2024 a tentar minimizar a importância do centenário de Amílcar Cabral – um esforço que se revelou completamente estéril, perante o entusiasmo nacional e internacional que a figura de Cabral continua a comandar.
Em 2025, apesar do fracasso do seu projecto de apagamento histórico de Cabral – o governo e a Maioria recorreram às mesmas estratégias para tentar diminuir a importância histórica do cinquentenário da Independência nacional – mais uma vez, sem qualquer sucesso.
Perante estes fracassos ideológicos – e confrontados com o péssimo presságio que foi a derrota do partido nas autárquicas de Dezembro passado – o MpD tomou uma decisão pró-ativa: a construção de um monumento ao SEU papel na história do país; uma obra que imortalizará o partido como o campeão heróico da democracia Cabo-verdiana.
Infelizmente, o debate público sobre o monumento aconteceu no pior momento possível: quando o país atravessa uma crise debilitante de energia; vive um completo caos no sector dos transportes; e, particularmente, quando os cidadãos obtiveram provas irrefutáveis da trágica irresponsabilidade do Estado, na sequência das inundações de São Vicente.
No contexto de tamanha crise de governação, o anúncio de um projecto simbólico de 150 mil contos – cerca de um milhão e quatrocentos mil Euros – provocou, previsivelmente, uma onde de indignação popular.
Numa reportagem sobre a matéria, a INFORPRESS – a agência nacional de notícias – reafirmou o seu papel de mero órgão de propaganda governamental ao enquadrar esta rejeição pública do monumento como uma atitude exclusiva dos partidos da oposição.
Aliás, segundo defensores do governo, a resistência ao projecto deve-se à rejeição dos valores que ele representa. Contudo, a falsidade desta narrativa torna-se evidente pela quantidade de militantes do MpD que já se posicionaram publicamente contra o empreendimento, independentemente dos valores que ele pretende veicular.
Esta crescente rejeição interna brota de um instinto saudável de sobrevivência política. É evidente para todas as mentes pensantes do partido que o momento não é propício para a auto-celebração; e que a teimosia da cúpula nesta empreitada constitui mais uma ameaça nas próximas eleições.
No entanto – tal como é habitual no estertor final de um ciclo partidário – a cúpula do MpD encontra-se trancada numa bolha de opinião, onde ideias estapafúrdias como esta são reforçadas pelos yes-men do partido; e onde as vozes do bom senso são sistematicamente silenciadas.
Concluindo, é de uma ironia esclarecedora que a construção de um monumento á liberdade e à democracia seja decidido de forma tão ditatorial pela liderança do MpD: contra a vontade manifesta dos cidadãos; contra as advertências dos seus próprios militantes; e com o intuito exclusivo de satisfazer a vontade de uma liderança politicamente esgotada. Ou seja, um verdadeiro monumento à Autocracia.