Aquando da tomada de posse, em Janeiro de 2025, o governo de Moçambique enfrentava o desafio imediato de arrefecimento dos ânimos políticos, de normalização do funcionamento das instituições e de retoma da confiança dos investidores.
As primeiras medidas foram marcadas pelo cinismo político: ao mesmo tempo que Chapo promovia encontros com líderes religiosos onde rezavam em conjunto pelo perdão e reconciliação, intensificava-se a perseguição, detenção e até assassinato de dezenas de líderes das manifestações. Realizava encontros privados com Venâncio Mondlane com vista ao serenar o ambiente políticos, mas posteriormente negava acordos de libertação de detidos e de compensação das vítimas das manifestações. Ao mesmo tempo que apelava à reconciliação nacional, repetia o slogan “manifestações ilegais, violentas e criminosas”, ignorando as circustâncias geradoras do conflito. Subtilmente, atribui um indulto aos líderes das manifestações (mas não uma amnisitia), perdoando mas não apagando o registo criminal. Trata-se de uma carta que a Frelimo poderá vir a usar no futuro, criando obstáculos a uma candidatura de Mondlane.
O diálogo inclusivo continua em cena, escutando-se diversas vozes da sociedade sobre assuntos importantes do país. Mas o principal assunto – a despartidarização do Estado – continua sem merecer o destaque necessário. Grande parte das discussões que decorrem com elementos da sociedade civil, não são acompanhadas por discussões públicas e abertas no seio do bureau político do partido Frelimo.
A guerra em Cabo Delgado persiste e permanecem as contradições socio-políticas. As condições humanitárias agravam-se. Do novo Presidente continua-se à espera de um pensamento aprofundado sobre o assunto.
Economicamente o executivo multiplicou-se em viagens pelo exterior trazendo um amplo conjunto de promessas de investimento e de apoio a sectores sociais. Grande parte das intenções de investimento continuam a ser de capital intensivo, portanto pouco geradoras de emprego e com reduzida relação com o tecido económico local, geradoras de desigualdades e com pouco impacto no alívio da pobreza. Os principais dossiers (retoma da TotalEnergies, renovação do contrato com a Mozal e com a Kenmare) continuam num impasse, com a reduzida capacidade negocial do governo em ceder às pressões por isenções fiscais. Continuam por se realizar reformas no sector das terras e das minas, conducentes a maior transparência e segurança de acesso aos recursos.
Na saúde e na educação persiste uma greve silenciosa dos funcionários públicos, desgastados por baixos salários e cada vez mais precárias condições de trabalho. Grande parte das unidades sanitárias não consegue garantir as valências que supostamente deveria ter. Equipamentos avariam por oscilações de energia e faltam medicamentos. Grande parte dos pacientes recorrem às farmácias privadas. Na educação as contratações de novos docentes praticamente só conseguem suprir os falecidos ou adoentados, incapazes de fazer face ao exponencial aumento demográfico. As turmas ultrapassam com facilidade a centena de alunos, e enfrenta-se a falta de salas de aulas, carteiras e manuais escolares.
Os problemas do país são estruturais e são impossíveis de resolver num mandato. Nem tão pouco em apenas um ano.