A Campanha eleitoral para as autárquicas de 2024 arrancou na passada quinta feira.
Nas últimas Presidenciais Americanas, a candidata democrata Kamala Harris foi duramente criticada por ter permitido que o espetáculo se transformasse num elemento central da sua campanha.
Nos seus comícios, a presença de mega celebridades como Taylor Swift, Beyoncé e Megan the Stallion transformaram os eventos que deveriam ser políticos num entretenimento vazio de massas.
Muito antes de Harris, o eleito republicano Donald Trump também foi criticado por usar a sua celebridade mediática – e a de aliados como Elon Musk – como estratégia eleitoral.
A verdade, é que as candidaturas americanas estão atrasadas na utilização deste modelo: Em Cabo Verde – em África de forma geral – a política é feita de forma transacional: e a campanha política resume-se um espectáculo completamente desprovido de substância.
Na campanha Cabo-verdiana, o ativista deu lugar ao prestador de serviços – normalmente amigos da corporação, muito bem remunerados; e a mensagem política deu lugar a um apelo sentimental à suposta pureza do candidato, em contraste com a suposta maleficência do seu adversário.
A relação entre esta política de baixo nível cívico e intelectual e a péssima qualidade do eleitor Cabo-verdiano é dialéctica: Por um lado, esta infantilização histórica e sistemática do cidadão pela classe política atrofia progressivamente a nossa cidadania.
Por outro lado, este mau cidadão – que tem expectativas baixas sobre a governação – reforça a degradação do diálogo político a nível nacional – e eterniza este ciclo vicioso de primitivismo cívico que rodeia as nossas campanhas.
Infelizmente, estas campanhas de entretenimento eleitoral custam-nos muito mais do que dinheiro e cidadania:
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São importadas camisolas, bandeiras, bonés e cartazes em massa, cujo destino próximo é atulhar as lixeiras do país;
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As bandeiras de plástico que são descartadas após os comícios voam pelas ruas durante semanas
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os cartazes que são colados às pressas em edifícios e monumentos por toda a cidade, deixam trilhas de papel rasgado e descolorado que perduram por anos
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E os carros de som em volume máximo que circulam de manhã à noite para espalhar as mensagens das candidaturas resultam em duas semanas de uma cacofonia intolerável
Os resíduos amontoados, a poluição sonora e visual e o desperdício financeiro lamentável que resultam das campanhas políticas nacionais vão contra todos os princípios propalados pela classe que as promove.
Este factor é, por si só, representativo da hipocrisia que caracteriza a política cabo-verdiana; e, muito particularmente, as duas semanas exasperantes que precedem as eleições.