A preocupação com o ambiente foi sempre uma representação estritamente teatral para todos os governos de Cabo Verde. A contradição radical entre o papo ambiental das instituições do estado; e os despropósitos de importação, consumo e desperdício que o mesmo estado permite a empresas e indivíduos é dolorosamente evidente.
Este teatro ambiental é destinado a aprimorar a nossa imagem perante os doadores ocidentais; e também, naturalmente, a arrecadar os apetitosos financiamentos disponibilizados pelos ditos doadores, para a suposta preservação do ambiente local.
É evidente que os próprios doadores têm uma preocupação muito ténue com a catástrofe climática que nos assola – o que, aliás, é visível pela timidez com que regulam os seus padrões criminosos de produção e consumo.
Se o Ocidente tivesse uma preocupação séria com o ambiente, não haveria fast food ou fast fashion; e não estaríamos perante a presente desregulação do comércio electrónico e da Inteligência Artificial.
Mesmo em espaços de ponta como a Europa Ocidental, os cidadãos ainda não foram capazes de produzir sistemas de governação com verdadeira responsabilidade ambiental.
Contudo – na Escandinávia, por exemplo – a sociedade civil tem sido capaz de mobilizar vontades no sentido de, pelo menos, pressionar o estado e gerir a ameaça.
Infelizmente, o cidadão Cabo-verdiano, tem colaborado com o estado no sentido da derrocada. Estamos visivelmente despreparados para assumir as nossas responsabilidades ambientais; e um dos nossos maiores desafios é uma verdadeira paixão nacional pelo plástico.
Até a década de 1980, consumíamos pouquíssimo plástico; o pouco que nos chegava ás mãos, em sacos e embalagens, era cuidadosamente reutilizado.
A primeira vaga nociva de plástico aconteceu com a liberalização do comércio na década de 1990, quando os Cabo-verdianos passaram a ter supermercados em cada esquina; e a consumir grandes quantidades de comida processada. As embalagens antes preservadas deixaram de ter valor e passaram a ser lixo.
A segunda vaga aconteceu pouco depois, com a proliferação do comércio chinês pelo arquipélago. O plástico passou a ser vendido ao desbarato, em artigos que duram dez dias, mas levam milénios para decompor.
Em 2025, encontramo-nos em plena terceira vaga de plástico: a vaga das celebrações. A maioria dos Cabo-verdianos cresceu com uma oferta comercial restrita e orçamentos familiares apertados. O consumo em aniversários e batizados raramente ultrapassava um corte de tecido para uma roupa nova; e uma refeição esmerada – mas quase nada poluente.
Poucos podiam imitar as celebrações elaboradas que se viam em revistas e novelas. Mas hoje, o mercado oferece a cada mãe babada a oportunidade de satisfazer todos os sonhos de consumo da sua infância – e de deixar a sua marca em plástico por toda localidade.
Hoje, cada evento familiar é celebrado com uma profusão de decorações temáticas, balões, pratos, talheres e brindes em plástico. Mas ao invés de regular esta catástrofe, o estado contribui para o desastre com os seus brindes, celebrando os seus eventos.
Entre uma cidadania viciada em plástico, e um estado completamente desprovido de visão ambiental, a salubridade do nosso futuro neste território minúsculo encontra-se sob uma ameaça gravosa.