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00:07 Sons e Ritmos de Angola #033 (Reposição)
Os ‘improvisos’ dos processos de paz e reconciliação em Moçambique

Os ‘improvisos’ dos processos de paz e reconciliação em Moçambique

Os ‘improvisos’ dos processos de paz e reconciliação em Moçambique

Os ‘improvisos’ dos processos de paz e reconciliação em Moçambique

A 4 de outubro Moçambique celebrou o dia da Paz e da reconciliação nacional, um dia importante que toca um tema talvez menos refletido durante a campanha eleitoral a terminar no país, já que no próximo dia 9 terão lugar as eleições gerais.  

Por um lado, os candidatos a ocupar a presidência foram pródigos em avançar com múltiplas promessas, a partir do pressuposto de que os rendimentos dos megaprojetos irão ser a alavanca para muitos destes projetos. Por outro lado, a própria Total Energies, um dos principais actores no xadrez da exploração do gaz no norte de Moçambique colocou, de novo algumas dúvidas. Como o próprio líder desta multinacional sublinhou recentemente, há que aguardar pelo resultado das eleições antes de se avançar com o projeto, já que para a Total Energies é fundamental, e cito, “discutir a forma como as novas autoridades moçambicanas tencionam manter a aliança com o Ruanda”. Ou seja, um sinal inequívoco que a nossa soberania continua a ser negociada em vários tabuleiros, numa clara alusão ao funcionamento das companhias majestáticas colonias que controlaram parte do território de Moçambique até quase metade do século passado.  

A paz e a segurança dos moçambicanos e moçambicanas são um direito inquestionável; ou será a paz um passo importante apenas para a exploração dos recursos no nosso território para benefício de outros?  

É importante conhecer a posição do ex vice-chefe das Forças Armadas, Bertolino Jeremias Capitine, exonerado na passada sexta-feira, pelo Presidente Nyusi. Esta exoneração aconteceu na sequência de uma avaliação sobre a “estratégia de combate ao terrorismo” no norte de Moçambique, que para Capitine continua a ser feita de forma improvisada. Mas temos de nos perguntar qual a estratégia usada pelas nossas forças de defesa e segurança, num momento em que a Total Energies sinaliza a importância da permanência das forças ruandesas no terreno em vários locais de Cabo Delgado.  

A questão que se coloca tem a ver com a ausência de um projeto amplo e envolvendo os moçambicanos e as moçambicanas, de uma politica de reconciliação e paz. Desde 1974 que se sucederam vários acordos de paz firmados, mas nunca cumpridos. Em que estamos a fracassar?  

Vemos a luta dos desempregados em desenrascar a vida, os camponeses a lutar pelas suas terras, contra a expropriação; vemos a luta de cada mãe moçambicana para assegurar que a sua família tenha, pelo menos, uma refeição e os filhos consigam ir à escola. E vemos também o aumento da intolerância dentro do país, assim como se trafica a soberania nacional e o futuro do país. São estas as versões de Moçambique que queremos?  

Em 1651, Hobbes assinalou que ninguém possui tanto poder físico e intelectual como qualquer outra pessoa que não chegue um momento em que o mais fraco seja capaz de ultrapassar e manobrar o mais poderoso. É o que, na ausência de acordo social, torna a vida de todos “solitária, pobre, desagradável, brutal e curta”. É do interesse “racional” de todos os que querem segurança e proteção chegar a um acordo que se sustente mutuamente. 

Urge um novo acordo, de refundação do nosso Estado, assente na procura incessante da dignidade dos moçambicanos e moçambicanas.  

A questão é saber se é possível encontrar desejos e formas de sermos vizinhos capazes de viver lado a lado com toda a confusão que acontece em qualquer vizinhança.