A Câmara Municipal da Praia foi condenada a indemnizar o Clube de Ténis da capital, num valor de 480 mil contos, pelo incumprimento do contrato de cedência de um terreno de 25000 m2, celebrado em 2020 entre o clube e o anterior autarca.
O clube de ténis recorreu aos tribunais quando a Câmara revendeu o terreno cedido, à embaixada dos Estados Unidos – antes de satisfazer as condições estipuladas no contrato de cedência, nomeadamente a construção de raiz de novas instalações para o clube na zona da Cidadela.
Interpelado sobre a sentença, a resposta de Francisco Carvalho, edil da Praia, viralizou nas redes sociais. O motivo não foi a polémica que é gerada há muito pelo assunto; e sim a atitude brejeira com que Carvalho respondeu às questões jurídicas e financeiras sérias que lhe foram colocadas.
Com uma imitação deliberada de inocência camponesa, Carvalho alegou nem ele nem a Câmara foram notificados; que só viu a notícia na capa de um jornal, e que nem se dignou a ler o conteúdo.
Ao invés de abordar o elevado montante da sentença, a possibilidade de interpor recurso, e as satisfações claras que a Câmara deve à sociedade civil, preferiu tecer considerações de cariz coloquial, sobre a necessidade de manter a cabeça fria no meio do dilúvio de acontecimentos de que é sujeito.
Após a primeira vitória presidencial de Donald Trump em 2016, seguida pela de Jair Bolsonaro em 2017, as elites intelectuais do mundo inteiro revelaram-se incapazes de perceber como tais figuras, de intelecto e expressão supostamente primitivos, tinham logrado convencer um eleitorado tão alargado.
Viriam a descobrir, tardiamente, que a maioria esmagadora dos eleitores não se sente ofendida pela suposta ignorância que é exposta deliberadamente por políticos populistas. Aliás, aquilo que as elites intelectuais tomam por evidência de barbárie, as ditas massas populares podem entender como proximidade.
Não obstante as suas professadas motivações ideológicas, as verdadeiras apostas eleitorais de Francisco Carvalho têm sido na rejeição que a maioria dos eleitores – cabo-verdianos e pelo mundo inteiro – sente pelas elites na presente conjuntura.
Entre uma base popular sub-politizada e emocionalmente ressentida, talvez a leveza de Carvalho sobre matéria tão séria seja bem recebida. Mas e os eleitores que esperam ver inteligência, competência e transparência nos seus candidatos? Estes foram certamente repelidos pela postura de Carvalho, em diversas ocasiões semelhantes.
Mesmo assim, Carvalho continua apontado como o favorito para vencer as próximas legislativas. Talvez não lhe seja difícil, dada a completa falência ética e governativa da presente Maioria. Mas caso isso aconteça, o mais provável é que seja no contexto de uma elevadíssima taxa de abstenção.
Infelizmente, os discursos populistas de Carvalho poderão acarretar custos ainda maiores que a hostilização dos eleitores mais exigentes: nomeadamente, a hostilização das competências intelectuais e profissionais que qualquer liderança necessita para lograr governar com sucesso.
De uma perspectiva estritamente estratégica, Carvalho precisa de encontrar um equilíbrio mais frutífero entre agradar as menos politizadas das suas bases; e fazer-se respeitar pelos sectores pensantes da sociedade civil – que têm sido brutalmente ignorados por este governo; mas que serão cruciais para o sucesso do próximo.