Esta semana, a atualidade económica angolana foi marcada pela apresentação de um livro de um conhecido empresário, Pedro Godinho, intitulado “Desistir Não é Opção”. Pedro Godinho é um empresário relativamente conhecido, começou a atividade no final dos anos 80, princípio dos anos 90, começou no negócio dos gelados, com uma pequena geladeria, depois foi progredindo, entrou nos petróleos, onde participa na exploração de alguns poços do petróleo, através de uma empresa em que tem uma participação. O negócio mais recente foi o anúncio de que vai construir um hotel na ilha de Luanda, com uma cadeia internacional, com a cadeia Hilton.
Portanto, é um empresário relativamente conhecido e o livro é uma autobiografia em que conta todo o seu percurso, que, repito, começou no final dos anos
80, princípio dos anos 90.
É um livro, de alguma maneira, corajoso, porque em Angola os empresários não falam, os empresários têm medo de falar, com medo das represálias que podem ter do aparelho de Estado dominado pelo MPLA.
Mas o que me faz falar deste livro são as coisas que Pedro Godinho conta.
Desde que Pedro Godinho iniciou a sua carreira empresarial até o momento, naturalmente houve uma evolução bastante grande, mas em termos de ambiente de negócios, os problemas que Pedro Godinho enfrentou quando começou a carreira, há 30 anos, não são muito diferentes daqueles que nós hoje vivemos, sobretudo naquilo que se refere com a relação com o poder, com os dirigentes.
À época que Pedro Godinho iniciou a sua atividade, e é um dos problemas que ainda subsiste, um empresário que falasse com um dirigente, apresentando-lhe um projeto de sua autoria, o dirigente dizia-lhe que não, mas depois, um tempo depois, concluía-se que o dirigente se havia apropriado do projeto que lhe foi apresentado e utilizava o projeto em benefício próprio.
Este é um dos exemplos. Outro [exemplo], falava-se com o dirigente, apresentava-se o projeto ao dirigente e ele, para aprovar o projeto, exigia uma participação no projeto.
São estas coisas que, ao fim de 30 anos, ainda subsistem em Angola e que toldam o ambiente de negócios e que, digamos assim, minam o investimento, afastam os investidores.
A questão é que, ao fim de 30 anos, as coisas, repito, houve muitas melhorias ao nível dos negócios, da facilidade de constituir empresas, etc, mas depois os negócios e os empreendimentos esbarram nesse tipo de coisas na relação com o poder, na relação com os dirigentes que se aproveitam dos lugares que ocupam para retirar benefícios pessoais.
Espero que, daqui a 30 anos, não estejamos a dizer as mesmas coisas.