Que Praia Queremos? 

Que Praia Queremos? 

Que Praia Queremos? 

Que Praia Queremos? 

As autárquicas  na Praia repetem sempre o mesmo padrão. Cada candidato glorifica a gestão da sua corporação, enquanto criminaliza o adversário.   

Este discurso ultra-partidário, é mediado pelos verdadeiros motores dos resultados eleitorais: as expectativas clientelistas que os indivíduos e as comunidades têm sobre cada candidato – na forma de empregos, licenças, terrenos e calcetamentos.  

 A agenda operacional do vencedor é quase como uma consideração secundária; plagiada de algum estudo do Banco Mundial e com pouco significado prático.  

 Quando os nossos eleitos conseguem calcetar algumas ruas ou manter o saneamento sob controlo, quase os canonizamos. Longe de nós debater – independentemente de simpatias pessoais ou partidárias – que Praia queremos 

 Há anos que o litoral da Gamboa está vedado, após ter sido cedido a David Chow, um empresário macaense de credenciais duvidosas. Depois de destruir parte da paisagem com uma construção medonha, o projecto faliu; mas o perímetro continua vedado, sem que a sociedade exija qualquer satisfação sobre o seu destino.    

No Plateau, o comércio predominantemente chinês deforma a cidade com grades horrendas, contaminando a aparência de todo o centro histórico. Em 500 anos, a nossa pobreza gerou pouquíssimos edifícios nobres. O nosso património urbano é escasso:  portanto mesmo humilde, deve ser preservado. Infelizmente, se existe um código de postura municipal que regula estas questões, ele é simplesmente ignorado.  

 Na minha rua, à entrada de um hotel, foi montada uma tabanka estilo continental: um costureiro, um sapateiro, um comerciante, alguns lavadores de viatura e diversos guardas da vizinhança reunem-se diariamente à sombra de uma acácia para exercer as suas atividades, No processo, fazem uma algazarra absolutamente intolerável 

 Estão tão à vontade, porque nenhuma autoridade, municipal ou estatal, lhes impôs uma postura urbana.  

 Estas situações são evidência de munícipes á deriva; incapazes de imaginar a sua cidade; exigir seus direitos; ou exercer os seus poderes.  

 O nível da administração municipal não subirá enquanto o munícipe não o obrigar. Se tivéssemos uma ideia clara da cidade que desejamos, não estaríamos à mercê dos embustes das candidaturas partidárias. 

 Infelizmente, a criação de um munícipe consciente exige bens públicos que não possuímos. Seria preciso dar-lhe acesso a melhor educação; acesso a um mercado de trabalho que não castiga o mérito, enquanto recompensa a prostituição política.  

 Fundamentalmente, teríamos que ter uma economia muito mais forte, porque a pobreza do cidadão traduz-se na sua dependência do Estado – e no constrangimento da sua cidadania. 

 Se o munícipe não percebe os seus direitos e o seu poder, não podemos esperar que a classe política cabo-verdiana cumpra o seu dever por ética – quando ela demonstra sistematicamente que nunca o fará.