Na última década, o clima político no Ocidente tem sido de tensão: entre o ressurgimento de uma direita populista; e as forças civis que pretendem impedir a sua ascensão.
• Em 2020, após um mandato de Donald Trump, Joe Biden derrotou o incumbente republicano!
• em 2022, Lula da Silva venceu Jair Bolsonaro, o incumbente da direita.
• E em 2024, a direita global sofreu outra derrota nas eleições francesas.
Mas nas ultimas legislativas em Portugal o Chega de André Ventura teve um desempenho fenomenal; e, nos Estados Unidos, a vitória brutal de Donald Trump sobre Kamala Harris foi letal para o establishment democrata.
Os Cabo-verdianos envolveram-se em todas estas eleições: porque representam potências de relevância global; mas também porque temos uma diáspora significativa em cada um desses países, que poderá ser vitimada pelas políticas xenófobas que a direita anuncia.
Infelizmente, ao invés de debater racionalmente as ameaças que a direita representa para as nossas comunidades, os maiores carpidores contra a ameaça fascista são movidos por uma fúria identitária, puramente sentimental; e limitam-se a abordagens reducionistas de problemáticas centrais como o racismo.
Na esquerda contemporânea, a produção de opinião é dominada por elites aburguesadas; protegidas da pobreza e da violência que são suportadas pelas suas bases. Dado seu estatuto privilegiado, os seus maiores desgostos resumem-se aos ataques simbólicos da direita
Esta cúpula alienada reage aos papos racistas de Ventura e Trump com muito mais entusiasmo do que reage à violência económica sofrida sistematicamente pelos cidadãos comuns que deveria representar.
Um exemplo ilustrativo é a fúria anti-Chega que dominou um exército digital de pseudo ativistas em Portugal quando foram publicitados os comentários vergonhosos de personalidades do partido ao assassinato de Odair Moniz, um Cabo-verdiano, pela policia portuguesa.
O assassinato foi brutal; e os comentários foram indefensáveis; mas os identitários esquecem-se que casos de violência racial aconteceram sistematicamente sob governos socialistas. Que a violência racial – incluindo assassinatos – é recorrente em Portugal.
A única diferença é que quando o governo é de esquerda, a violência é lamentada, com toda a hipocrisia, pela classe política: mas os guetos cabo-verdianos em Lisboa nunca deixam de ser alvos da violência policial.
Nos guetos pelo ocidente afora, as consequências da pobreza e da negritude não são simbólicas; são materiais. Os eleitores sabem que não precisam de vitórias da direita para sofrer – porque sabem que foram abandonados pelas lideranças de esquerda, todas gulosas e decadentes.
Naturalmente, a resposta das bases tem sido abandonar a falsa esquerda que os abandonou – como fizeram com Kamala Harris; o que, infelizmente, facilitará sobremaneira a ascensão da direita.