Multilateralismo. Esta foi a palavra que dominou a Cimeira União Africana, União Europeia, que decorreu esta semana em Luanda. Decorreu bem, sublinhe-se.
Eu creio que a Cimeira contribuiu para dar a conhecer a capacidade de organização de Angola deste tipo de eventos internacionais. Enfim, foi facilitado pelo facto de ter havido tolerância de ponto. Durante dois dias os angolanos ficaram em casa por causa da Cimeira, afinal, estavam cá quase 50 chefes de Estado e de Governo e era preciso assegurar a mobilidade dessas altas entidades.
Mas, dizia eu, multilateralismo dominou a Cimeira União Africana, União Europeia. E creio que em boa hora aconteceu. O futuro do mundo, do meu ponto de vista, passa justamente pela cooperação internacional, pela criação de instituições supernacionais no âmbito das quais se resolvam os problemas, se atinjam também os objetivos comuns.
Isto tudo, obviamente, no respeito pelas regras, ao contrário do que tem sido apanágio dos últimos tempos, sobretudo desde a chegada ao poder de Donald Trump, em que as coisas são resolvidas de forma, muitas vezes, unilateral ou bilateral.
O caso da Ucrânia é um exemplo paradigmático. A Ucrânia, que é a principal parte interessada é muitas vezes excluída da solução negociada pelos Estados Unidos e pela Rússia. Não só a Ucrânia, mas também a Europa tem ficado de fora das negociações.
E isso tudo depois de ter sido a Rússia que não respeitou o direito internacional.
Mas, multilateralismo é, de facto, a chave. A África e a Europa têm interesse nisso, como têm, aliás, o resto do mundo, até porque não têm, sobretudo, a força militar para impor decisões.
E ainda que tivessem, do meu ponto de vista, a solução é, de facto, o multilateralismo. Para África, por aquilo que nós conhecemos, o multilateralismo até necessita de ser mais aprofundado. Por exemplo, a África está sub-representada nas principais organizações internacionais, a começar pela ONU, onde não tem um assento no Conselho de Segurança, mas também no Fundo Monetário Internacional, também no Banco Mundial.
Portanto, o multilateralismo é o futuro, mas, dentro do multilateralismo, é preciso que a África, ela própria, seja mais representada, aliás, é um objetivo que os africanos têm e que, de alguma maneira, de toda a maneira, reúne também o apoio da União Europeia. Enfim, os tempos não estão fáceis para o multilateralismo, mas eu creio que é esse, de facto, o caminho que nos trouxe até aqui a esta situação de prosperidade, apesar dos pesares.