A crise política que Moçambique atravessa está a ser amplamente debatida, dentro e fora do país; através das redes sociais e dos média partilham-se imagens e notícias das manifestações e protestos. E convém refletir sobre as mensagens passadas em várias manifestações de rua – dos médicos, dos professores, e de outros grupos organizados.
A precarização das condições de trabalho, as liberdades e a democracia nos locais de trabalho e no país, o colapso dos serviços públicos e a urgência do respeito para com a ética do trabalho, são alguns dos lemas defendidos nestes protestos. Ou seja, os resultados eleitorais acabaram sendo o estopim para estas manifestações, que já tinham começado no ano passado, sob a forma de várias greves: dos professores, médicos, enfermeiros, etc. E até agora, a violência do Estado não tinha sido utlizada para reprimir estes protestos – e aqui gostaria de sublinhar que a marcha dos médicos não foi incomodada pela polícia. Porém, nas últimas semanas, a polícia tem recorrido a gás lacrimogénio e a balas reais contra os manifestantes, situação que não tem ajudado a encontrar uma solução para a crise política.
Mas as mães coragem vieram à luta. Na semana passada, as mulheres do bairro Luís Cabral, na cidade de Maputo, marcharam com dignidade reclamando explicações pelo assassinato de um jovem do bairro. A violência maltrata os corpos e os sentimentos; destrói a nossa sociedade, física, emocional e mentalmente. As mulheres do Bairro Luis Cabral marcharam exigindo justiça. Mas esta marcha das mulheres encontrou pouca amplitude, escondida sob camadas de silêncio. Há, no âmago das nações modernas, aspetos de extrema violência na definição dos factos que constituem a narrativa histórica oficial. Porque se fala tão pouco das reivindicações das mulheres no placo dos protestos? Como amplificar os microprocessos sociais quotidianos, num ambiente global atravessado por tantos episódios de violência, incluindo a violência associada às questões ambientais?
Como a União Africana tem vindo a reafirmar, as alterações climáticas são um “multiplicador de ameaças”: agravam os problemas existentes. Desde 2016, a União Africana encomendou uma série de estudos que analisam em detalhe a relação entre as alterações climáticas e os conflitos. Ao abordar estas ligações, procura-se mostrar como medidas fortes para lidar com as alterações climáticas extremas são fundamentais para o futuro do nosso continente e do mundo.
Um artigo recente da conceituada revista britânica The Lancet afirma que “as mulheres têm menos probabilidades de possuir terras e recursos que as protejam em situações de pós-catástrofe; têm menos controlo sobre os rendimentos; menos acesso à informação e experimentam um apoio institucional limitado e uma liberdade de associação mais restrita, o que resulta numa maior vulnerabilidade aos impactos agudos e a longo prazo das alterações climáticas”.
Todavia, na COP29 que está reunida em Baku, no Azerbaijão, são poucas as mulheres africanas que participam na negociação de estratégias e como obter recursos para mitigar os impactos da adversidade ambiental. Ajudar a reforçar a resistência às condições climáticas extremas em África não é apenas uma necessidade ambiental – é uma pedra angular da paz e da estabilidade.
As mulheres moçambicanas que marcham em protesto querem uma mudança real – quem será que as ouve e dá uma resposta á altura dos desejos destas mulheres guerreiras? As mulheres do mundo mudam o mundo, juntas na luta procuram encontrar esperança e força, aprendendo a construir o futuro melhor que queremos para todas e todos.